Poderá a 'Unidade' dos BRICS+ realmente resgatar o comércio internacional dos seus atuais estrangulamentos?

Os sistemas tradicionais de pagamentos transfronteiriços estão a desmoronar. Os atrasos na liquidação prolongam-se por dias, as taxas de conversão cambial devoram margens e as sanções criam zonas de blackout imprevisíveis para as empresas. Entretanto, os mercados emergentes veem o seu poder de compra evaporar face a uma única moeda de reserva dominante.

A proposta de Unidade dos BRICS+—um instrumento de liquidação suportado por uma cesta de ativos—oferece algo diferente. Não é uma moeda de substituição, mas sim um mecanismo de compensação neutro. Pense nela como uma zona desmilitarizada financeira onde a soja brasileira, a energia russa, os produtos farmacêuticos indianos e a manufatura chinesa podem trocar valor sem passar pelas redes bancárias correspondentes tradicionais.

O que torna isto intrigante? A matemática subjacente. Ao ancorar-se numa cesta ponderada por commodities em vez de moeda fiduciária, a Unidade poderia, em teoria, atenuar a volatilidade que destrói acordos comerciais nos mercados emergentes. Os exportadores não teriam de adivinhar se o seu pagamento valerá menos 15% quando for liquidado.

É certo que o risco de execução é enorme. Estruturas de governação, gestão de reservas, infraestrutura técnica—tudo quebra-cabeças por resolver. Mas o problema que visa resolver? Esse é dolorosamente real. O comércio global precisa de pontes de liquidez que não dependam de humores geopolíticos.

Se os BRICS+ conseguirão concretizar isto ou fracassarão espetacularmente, uma coisa é certa: a procura por camadas alternativas de liquidação não vai desaparecer. A questão não é se a mudança vem, mas sim que forma irá assumir.