A posição anti-privacidade de Michael Saylor gera reação negativa nos círculos de cripto

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O antigo debate sobre anonimato no Bitcoin voltou à tona depois de um conhecido defensor da privacidade ter divulgado um desacordo inesperado com uma das figuras mais influentes do setor.

Segundo Eli Ben-Sasson, cofundador da Zcash, uma conversa privada com Michael Saylor, da Strategy, revelou diferenças filosóficas profundas sobre o rumo a seguir pelas criptomoedas. Saylor, cuja empresa detém a maior reserva corporativa de Bitcoin do mundo, terá defendido que o Bitcoin não deve procurar uma opacidade financeira total, alertando que um excesso de privacidade pode levar os governos a sufocar o ativo.

Principais Conclusões

• Saylor opõe-se à privacidade ao estilo Zcash para o Bitcoin, alertando que pode desencadear repressão por parte dos governos.
• Defensores da privacidade argumentam que a encriptação seletiva é essencial à medida que a adoção cresce e aumentam os riscos de vigilância.
• A procura por transações confidenciais está a aumentar, com redes como Solana e XRP Ledger já a integrar funcionalidades de privacidade.

Ben-Sasson afirma que o desacordo não se prende com a importância da privacidade, mas sim com o modo de implementação. Ele defende que as ferramentas criptográficas permitem ao Bitcoin oferecer proteção mantendo mecanismos de conformidade como a divulgação seletiva, o que significa que a rede não tem de escolher entre transparência e soberania individual.

Interesse Crescente em Moedas de Privacidade Sugere que o Debate Vai Continuar

O debate surgiu novamente precisamente quando grandes figuras das finanças e do setor cripto começam a procurar fora do Bitcoin garantias de privacidade mais robustas. Jan van Eck, diretor da VanEck, afirmou recentemente que os primeiros entusiastas do Bitcoin estão a voltar-se para a Zcash devido às crescentes preocupações com a rastreabilidade das transações e com ameaças quânticas futuras.

Arthur Hayes, cofundador de uma conhecida exchange, deu ainda mais destaque ao debate, chamando à Zcash “Bitcoin com privacidade total” e especulando que o seu valor pode atingir até um quinto da capitalização de mercado do Bitcoin caso a privacidade se torne a narrativa dominante.

Esta mudança de sentimento já começa a chegar às instituições. A Grayscale, um dos maiores gestores de ativos digitais do mundo, destacou as raízes da Zcash no código do Bitcoin, mas com encriptação que oculta montantes e participantes. O seu recente pedido para um ETF spot de ZEC acelerou a atenção sobre o ativo e reavivou o debate sobre se o modelo de transparência do Bitcoin é sustentável.

Defensores da Privacidade Alertam que a Abertura do Bitcoin Pode Sair pela Culatra

Para o ativista da privacidade Mert, a reação à posição de Saylor foi imediata. Ele enquadrou o debate em termos mais gerais: a sociedade encripta quase tudo — mensagens pessoais, ficheiros na cloud, fotos — mas, subitamente, o dinheiro é tratado de forma diferente. Essa incoerência pode expor os utilizadores ao controlo estatal excessivo.

Mert argumenta que o espírito cypherpunk por detrás do Bitcoin corre o risco de ser esquecido à medida que a adoção aumenta. As blockchains públicas, diz, transformam involuntariamente os hábitos de consumo em trilhos de evidências. À medida que mais instituições reconhecem este problema, a procura por funcionalidades de privacidade cresce: a Solana já lançou transferências confidenciais a pedido de clientes empresariais, enquanto a Ripple está a desenvolver add-ons de privacidade para o XRP Ledger.

O debate está também a alargar-se para além do universo cripto. As primeiras experiências europeias com moedas digitais de bancos centrais incluem propostas para limites de gastos — precisamente o tipo de sistema contra o qual os desenvolvedores de privacidade alertam. Mert acredita que controlos mais apertados são quase inevitáveis e que a próxima geração de criptomoedas terá de estar preparada para prevenir a vigilância financeira.

Resta saber se o Bitcoin evoluirá para dar resposta a essa procura ou se cederá o papel a concorrentes melhorados em privacidade — esta continua a ser uma das batalhas ideológicas mais marcantes que o espaço cripto enfrenta atualmente.