Será que a China vai abrir-se às criptomoedas no futuro???

Nos anos 80, um grupo de jovens homens e mulheres foi executado pelo chamado “crime de vadiagem”; olhando agora para trás, muitos desses casos nem sequer seriam considerados crime. Assim são os tempos: aquilo que hoje é rejeitado, no futuro acaba muitas vezes por ser aceite e até se tornar tendência. O mesmo se passa com as criptomoedas: elas sobrevivem não por serem um conceito na moda, mas porque de facto resolvem problemas de segurança e eficiência nas transacções transfronteiriças, e satisfazem as necessidades da economia cinzenta e da dark web a nível global — isto não é algo que um país possa simplesmente negar por decisão própria.
Porque é que estamos agora a reprimir com tanta força?
Não é porque as criptomoedas sejam más, mas sim porque a estrutura económica não o permite.
Resumindo:
Os preços dos activos domésticos são muito superiores aos do estrangeiro, criando sob controlo de capitais um forte diferencial e pressão para saída de capitais; a economia está em desaceleração, é necessário expandir o crédito para sustentar os activos, e as moedas digitais acabam por ser um furo direto na bolha de activos, acelerando a fuga de capitais. Para a segurança financeira, isto é um detonador, por isso só pode haver regulamentação rigorosa.
Quando no futuro a bolha de activos internos for eliminada, a diferença de preços entre activos internos e externos se reduzir e a pressão de saída de capitais diminuir, a internacionalização do renminbi avançará naturalmente. Nessa fase, alinhar com a tendência global e aliviar ou até abrir o acesso às criptomoedas será algo natural.
O ponto chave é — neste momento estamos a atravessar o ciclo de recessão do balanço patrimonial referido por Richard Koo.
Desde 2021, o impulso da dívida atingiu o limite, continuar a aumentar o endividamento só prejudica o crescimento, por isso as empresas estão a desendividar-se, os preços das casas a corrigir, e a dívida das autarquias a entrar em incumprimento — nada disto se resolve num ou dois anos. O Japão demorou de 1991 a 2006 a recuperar do colapso; aqui ainda temos a juntar a recessão global, o declínio populacional e a saída das cadeias de abastecimento, o ciclo só será mais longo.
Por isso, durante muito tempo, as criptomoedas não serão permitidas na China.
Não é por ser o caminho errado, mas sim porque não é o momento certo.
A grande tendência não vai mudar, é apenas uma questão de ritmo.