O Banco do Japão desta vez parece que vai mesmo avançar.

Segundo informações internas, se este mês não houver nenhum choque inesperado, é muito provável que aumentem as taxas de juro — e será o nível mais alto desde 1995. Como é que o mercado vê isto? Os dados das transacções de swaps mostram que os traders atribuem 90% de probabilidade a este cenário.

Porquê arriscar agora? O ponto-chave é que, nos EUA, as questões das tarifas alfandegárias estão praticamente resolvidas, os lucros das empresas japonesas ainda se aguentam e o banco central acredita que a economia consegue suportar o impacto. Claro que também deixaram uma margem de manobra, dizendo que vão subir as taxas e observar a reacção, e onde vão parar ainda está por ver — as estimativas actuais colocam a taxa neutra algures entre 1% e 2,5%.

Mas o que é que isto tem a ver com o mundo das criptomoedas? Tem tudo a ver.

Aqui entra um velho truque: o carry trade com o iene. Simplificando, durante estes últimos anos o Japão teve taxas de juro absurdamente baixas, o que permitiu aos investidores pedir emprestado enormes quantidades de ienes quase a custo zero, trocar por dólares ou outras moedas, e depois investir em acções, obrigações ou até comprar activos de alto risco como o bitcoin. No fundo, trata-se de usar “dinheiro barato” para perseguir retornos elevados.

Agora, com o Banco do Japão a subir as taxas, as regras do jogo mudam. O custo de pedir dinheiro emprestado sobe, por isso, o que vão fazer os fundos que vivem deste tipo de arbitragem? Ou fecham posições e convertem de volta para ienes para pagar as dívidas, ou saem dos activos de alto risco para cortar perdas. O mercado das cripto já é volátil por natureza, e quando este dinheiro sai, as reacções em cadeia são rápidas e intensas.

Por isso, não subestimes este movimento do Banco do Japão — não mexe só com a taxa de câmbio do iene, pode também provocar uma onda de volatilidade nos activos de risco a nível global, especialmente nas criptomoedas.