Desta vez, a Coreia do Sul está a levar isto a sério.

Não se trata de uma revisão rotineira de licenças, nem dos velhos truques de monitorização de fundos — desta vez querem afundar as exchanges cripto no “pântano da responsabilidade bancária”.

A cláusula principal é simples: “Sistema de indemnização sem culpa”.
Traduzindo: os utilizadores perderam dinheiro na tua plataforma? Seja por hackers, falhas de sistema ou puro azar, a plataforma tem de indemnizar primeiro. Apurar de quem é a culpa? Isso vê-se depois.

Parece um conto de fadas? Mas o governo coreano já pôs o projeto-lei em cima da mesa.

**O rastilho já estava aceso há muito**

Na madrugada de 27 de novembro do ano passado, desapareceram 44,5 mil milhões de won da Upbit (cerca de 30,1 milhões de dólares).

Mas o que realmente deixou os reguladores furiosos não foi o dinheiro — foram aqueles malditos 54 minutos.

Às 5h da manhã, soou o alarme do sistema.
Às 10:58, o regulador recebeu a chamada.

O que aconteceu nesse intervalo? Alguém estava em reunião? Ou à espera de um “momento oportuno”?

Coincidência ou não, na altura a Dunamu, empresa-mãe da Upbit, estava ocupada em negociações de fusão com a Naver Financial. Os deputados coreanos não hesitaram em perguntar: arrastaram de propósito para concluir o negócio primeiro?

Assim que surgem suspeitas destas, o governo tem mesmo de agir.

**O problema não são só os hackers**

De 2023 até agora, as cinco maiores exchanges coreanas já tiveram 20 falhas sistémicas, afetando mais de 900 contas de utilizadores.

Paragens, lentidão, impossibilidade de levantar fundos, operações revertidas… estes “problemas técnicos” acontecem até mais vezes do que ataques externos.

Os utilizadores querem negociar cripto, mas é a própria plataforma que colapsa primeiro — quando isto acontece repetidamente, é impossível que o regulador fique de braços cruzados.

Por isso, o raciocínio coreano é claro: se as exchanges querem ser instituições financeiras, então que sigam os mesmos padrões.
Se o sistema bancário falha, paga; se uma corretora falha, paga; porque é que as plataformas cripto podem esconder-se atrás do “risco tecnológico”?

**O impacto disto pode ser maior do que se imagina**

Se estas regras entrarem mesmo em vigor, as CEXs coreanas terão de aceitar ou sair do país.
E os reguladores do resto do mundo? É possível que usem isto como “modelo de referência”.

Afinal, todos andam a pensar em como regular estas plataformas, e esta solução coreana é dura e direta.

Se as exchanges vão passar o custo da conformidade para os utilizadores, ou até abandonar certos mercados — isso já é outra história.