O paradoxo do ciclo do Bitcoin: persiste por causa da “falta de fé”

Quando o Bitcoin caiu de 126.000 dólares para a marca dos 90.000 dólares, as previsões sobre a “ineficácia do ciclo de quatro anos” voltaram a ser desmentidas. Este ritmo de mercado, que desde o seu nascimento em 2009 tem funcionado com precisão, continua a mostrar uma eficácia surpreendente em 2025. Por detrás disto, revela-se uma verdade contraintuitiva do mercado: é precisamente a dúvida da maioria em relação à regularidade que permite a sua própria continuidade.

1. Mecanismo de halving: o relógio de cunhagem do ouro digital

O ciclo de quatro anos do Bitcoin tem origem no mecanismo de escassez desenhado por Satoshi Nakamoto – a cada 210.000 blocos (cerca de quatro anos), a recompensa dos mineiros por bloco é automaticamente reduzida para metade. Este design imita o aumento da dificuldade de extração do ouro, mas criou uma previsibilidade sem precedentes na história financeira.

Os dados históricos mostram uma consistência surpreendente: após cada halving (2012, 2016, 2020) segue-se sempre um bull market com duração de cerca de um ano. Mais precisamente, a janela temporal do halving até ao pico do preço mantém-se estável entre 368 e 518 dias, uma regularidade muito superior à aleatoriedade dos ciclos dos ativos financeiros tradicionais.

2. O paradoxo do mercado: o dilema da ineficácia do que é reconhecidamente eficaz

Segundo a hipótese do mercado eficiente, quando uma regra se torna conhecimento comum, as arbitragens antecipam as expectativas e a regularidade deixa de existir. Em 2021, vimos um caso típico: alguns analistas estrangeiros previram com precisão, através de modelos de ciclo, um topo em outubro de 2025, o que, em teoria, deveria ter provocado vendas antecipadas e destruído o ciclo.

No entanto, a realidade é que, apesar de a teoria do “bull market após o halving” ser senso comum no universo cripto desde 2019, a duração e a amplitude da presente transição de ciclo coincidem com as dos ciclos anteriores. Isto constitui um dos fenómenos mais intrigantes do mercado financeiro moderno: uma regra amplamente conhecida não se desintegra perante o consenso.

3. Decifrar com a psicologia financeira: o fosso entre cognição e ação

A resposta central reside nos abismos da psicologia financeira. Os participantes do mercado manifestam uma típica “descrença a três níveis”:

Primeiro nível: descrença informacional. Cerca de 60% dos detentores de Bitcoin vêem o halving como ruído de fundo, sem construir um quadro cíclico. Perseguem tendências e narrativas, mas não compreendem os mecanismos subjacentes.

Segundo nível: descrença experiencial. Mesmo conhecendo a teoria, a maioria dos investidores sucumbe à emoção do “desta vez é diferente”. Em 2021, apostaram que a “entrada de instituições mudaria o ciclo”, em 2025 depositam esperança de que os “ETFs trarão um bull market eterno” – no fundo, uma recusa deliberada da experiência histórica.

Terceiro nível: descrença operacional. Menos de 5% dos participantes executam “cegamente” estratégias baseadas no ciclo. A ganância e a aversão à perda levam a esmagadora maioria a reforçar posições no topo do bull market e sair no fundo do bear market, contrariando a teoria do ciclo.

Esta divergência sistemática entre “cognição racional” e “ação emocional” cria uma estrutura de mercado autorrealizável. Quando a maioria duvida do ciclo, as suas decisões irracionais alimentam precisamente a continuidade do ciclo – são poucos os que antecipam o fundo, são poucos os que fogem do topo, permitindo que o ritmo histórico se repita por completo.

4. A espiral da dúvida: mecanismo de reforço reflexivo

Ainda mais intrigante é a característica auto-reforçadora do ceticismo em relação ao ciclo. Cada bull market gera a “teoria do fim do ciclo”, atraindo céticos a comprar em alta; cada bear market provoca pânico de “o Bitcoin morreu”, levando esses mesmos céticos a vender em prejuízo. Esta dinâmica de compra em euforia e venda no pânico, alimentada pela dúvida, acaba por purificar o valor da fé no ciclo, proporcionando retornos extraordinários aos poucos que permanecem fiéis.

Os dados mostram que, desde 2019, a proporção de opinion makers que afirmam claramente que o “ciclo de quatro anos será quebrado” subiu de 23% para 67% em 2025. Mas os dados on-chain mostram simultaneamente que a percentagem de detentores de longo prazo (>1 ano) permanece estável entre 55% e 60%. Isto indica que o ceticismo é sobretudo um fenómeno especulativo, enquanto a camada de valor se mantém cada vez mais convicta no ciclo.

5. Conclusão: o ciclo persiste graças à falta de fé

A eficácia continuada do ciclo de quatro anos do Bitcoin é, na sua essência, uma aposta na constância do comportamento humano. Enquanto o mercado for movido por emoções humanas, o paradoxo do “sei mas não acredito” continuará. Quando os analistas se apressam a provar a “mudança de paradigma”, o relógio de cunhagem avança silenciosamente para o próximo halving; quando os traders são dominados pela FOMO, a próxima etapa do ciclo já está traçada.

A chamada regularidade nunca desaparece no consenso, mas sim sobrevive nas fissuras da natureza humana. Para quem verdadeiramente compreende isto, o ciclo nunca se foi; para os especuladores hesitantes, o ciclo está sempre a desaparecer. Talvez esta seja a mais subtil filosofia que Satoshi deixou ao mercado: aquilo em que mais vale a pena acreditar é precisamente o que a maioria se recusa a acreditar.

Preço do Bitcoin no momento da publicação: 89.600 dólares

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