A notícia chegou de forma totalmente inesperada.

A 5 de dezembro de 2025, a Câmara de Comércio Externa do Brasil emitiu um anúncio: para altifalantes automóveis provenientes da China, o imposto anti-dumping mantém-se nos 78,3%, bloqueado por cinco anos.

O que significa 78,3%? Se o preço de fábrica do teu altifalante é 100, ao passar pela alfândega já tens 78 de imposto. Ainda nem estamos a contar com a tarifa base, logística e margem dos canais. Quando chega ao consumidor, o preço duplica ou até triplica. O fabrico chinês baseia-se na relação qualidade/preço e na velocidade de iteração; com este imposto, a vantagem desaparece quase por completo.

Não é a primeira vez que o Brasil toma este tipo de medidas. Pneus, cerâmica, aço inoxidável, produtos químicos... A lista de produtos chineses sujeitos a anti-dumping no Brasil ocupa facilmente uma página inteira. Proteger a indústria nacional é compreensível, mas estabelecer bloqueios de cinco anos e taxas próximas dos 80% é uma lógica algo peculiar.

Vejamos os números. A China é o maior parceiro comercial do Brasil, há vários anos consecutivos. Em 2024, o volume de trocas bilaterais ultrapassou os 150 mil milhões de dólares, com o Brasil a manter, de forma contínua, um superavit face à China. Soja, minério de ferro, carne de vaca — tudo segue para a China sem parar. Mas no que toca a produtos industrializados, a porta fecha-se de repente. As relações comerciais deveriam ser de via dupla, mas agora parecem mais "eu vendo, tu compras, mas tu não vendes".

Há quem diga que isto serve para proteger a indústria nacional. A intenção é compreensível, mas uma árvore frondosa não cresce numa estufa. As tarifas altas normalmente bloqueiam capacidades produtivas ultrapassadas. Os consumidores acabam obrigados a aceitar produtos mais caros ou de menor qualidade, e as empresas locais perdem a pressão para melhorar. O setor brasileiro de componentes automóveis não precisa de isolamento, mas sim de integração nas cadeias globais, tornando-se mais forte na competição.

Numa perspetiva mais ampla? A recuperação económica global é fraca, e políticas de "fecho interno" estão a regressar. Esta decisão do Brasil é um reflexo dessa tendência. Todos querem proteger o seu ganha-pão, mas construir muros pode acabar por empobrecer todas as mesas. A abertura e a circulação são o verdadeiro caminho para o crescimento e a redução da inflação — a história já o provou.

Para as empresas chinesas, isto é um balde de água fria e também um alerta.

Diversificar mercados não pode ser só conversa. Não se pode pôr todos os ovos no mesmo cesto, nem esperar que as políticas dos outros sejam sempre amigáveis. Atualização tecnológica, valor de marca, cooperação local — estes caminhos antigos são agora mais reais e urgentes do que nunca.

Cinco anos, numa indústria tecnológica, chegam para duas gerações de produtos. Conseguirão as nossas empresas, nestes cinco anos, criar produtos tão bons que nenhum imposto faça diferença? É uma questão dura, mas tem de ser respondida.

Este muro do Brasil volta a mostrar-nos: o comércio internacional nunca foi um conto de fadas. É complexo, realista, cheio de jogos de interesse. O caminho para sair não é fácil; só sendo mais fortes, mais flexíveis e mais insubstituíveis se consegue atravessar a tempestade e ver um céu mais amplo.